Um "Dostoiévski à francesa", nos seus embates entre culpa e pureza, esperança e agonia. Expoente do que Antoine Compagnon chama de tradição "antimoderna" - que se digladia com a herança de anomia do processo revolucionário regicida e deicida de 1789.
Essas são aproximações possíveis e Bernanos (1888-1948). Em "Um Sonho Ruim", comparecem elementos de outras obras-primas, como "Sob o Sol de Satã" e Diário de um Pároco de Aldeia".
O tom de enfrentamento polemista, a dimensão "contra-cultural" de um cristianismo pós-cristandade, fora do eixo, minoritário, porém latente, ficam patentes na prospecção do "sonho ruim" que as guerras mundiais exasperam, tendo subjacente as crises modernas de identidade e dignidade:
"É horrível, essa gente toda se esforçando para desobedecer aos mandamentos de Deus. De um Deus em quem eles nem creem mais. Porque, por mais que tentem ser canalhas com naturalidade, se entupir de drogas, de remédios, parece que o vício exaspera, e não apazigua, o velho sangue cristão que corre em suas veias."
Autor: Georges Bernanos
Tradução: Pedro Sette-Câmara
Editora: É Realizações
Valor: R$ 39,00
312 páginas
Avaliação: Ótimo
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