29 de jun. de 2013

Livro - Deserto

Depois do belo "Desterro: Memórias em Ruínas", um livro no qual o professor e escritor Luís Krausz passava em revista sua história familiar, de judeus "vomitados pela Europa" durante o nazismo, como ele dizia, agora ele retorna o assunto, mas em chave ficcional. Não se trata mais de um livro de memórias, mas de uma ficção - até onde ficção e relato pessoal conseguem se separar inteiramente.
"Deserto" retoma, numa narrativa delicada e de muita observação e fina análise, o mesmo destino dos judeus. Agora, o narrador em primeira pessoa recorda uma viagem que fez a Israel na sua adolescência, nos anos 1970. A viagem tinha sido realizada pela Organização Sionista Unificada, cuja sede ficava no Bom Retiro, com uma condição: após o período de aulas e de cultivo agrícola, os alunos poderiam ficar mais um pouco em Israel na case de algum parente, mas não poderiam viajar para Europa, antes do retorno ao Brasil. "A Europa era a terra interdita das tentações burguesas que facilmente poderiam desviar um judeu jovem e ingênuo do caminho reto do sionismo".
O protagonista de Krausz resolve burlar a regra. Visita, em Jerusalém, parentes que só conhecia de nome, e depois voa para a Inglaterra. Essa "burla", dentro do romance, tem a função de dar a ver o destino de seus parentes que viveram na Alemanha e na Áustria, condenados ao desterro, "sobreviventes de algum continente desaparecido".
O sentido de toda essa aventura vai se delineando, aos poucos, para o narrador, que é brasileiro: "Como se eu fosse um membro daquela geração condenada a vagar pelo deserto até o término dos meus dias, nem escravo, nem homem livre, mas uma criatura de passagem, em trânsito entre um e outro mundo, assim como todos os membros de minha geração, assim como meus país e avós e a prima Wally e o primo Eugen com sua orgulhosa biblioteca reconstruída de livros judaico-alemães".







Autor: Luís S. Krausz
Editora: Benvirá
Valor: R$ 19,90
152 páginas
Avaliação: Ótimo

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