"Billy Gray era o meu melhor amigo, e me apaixonei pela mãe dele". Craque, esse tal de Banville: sabe que, em matéria de romance, a primeira fase é definidora, puxa o restante da narrativa de mundo do narrador.
Mas Banville também é um enganador da melhor estirpe. Com esse estilo ligeiro, encobre uma história tristíssima; no entanto, deixa entrever que seu flerte é com a comédia de erros - ou melhor, com a comédia de fracassos.
O próprio narrador é um sujeito em gloriosa decomposição, o ator Alexander Cleave, vivendo o acaso da profissão e da vida. Seu grande amor, a senhora Celia, hoje octogenária, mora no passado; com a mulher, a opaca Lydya, compartilha um casamento infeliz e uma dor excruciante - a perda da filha, intelectual acometida por doença parecida com a esquizofrenia.
Apesar disso, Alexander conserva a alegria em uma voz sagaz, irônica, cheia de trocadilhos (observados na ótima tradução) e digressões. Só a cena em que Alexander flagra pela primeira vez a calcinha da mãe do antigo já vale o ingresso.
Autor: John Banville
Tradução: Sergio Flaksman
Editora: Biblioteca Azul
Valor: R$ 39,90
336 páginas
Avaliação: Ótima
Nenhum comentário:
Postar um comentário